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Cérebro e coração. Quem é o chefe?

O que você pensaria se eu falasse que é possível controlar processos corporais automáticos como, por exemplo, a nossa frequência cardíaca e a respiração? E, que além de controlá-los, podemos modificá-los para criar mudanças extremamente positivas nas nossas vidas? Provavelmente, você não acreditaria, mas é possível, e mais fácil do que você imagina.

Nosso cérebro é uma máquina incrível capaz de controlar processos conscientes relacionados com o pensamento, raciocínio, tomada de decisões, atenção e nosso comportamento voluntário de maneira geral, além disso, ele tem absoluto controle sobre processos automáticos pouco acessíveis à nossa consciência como a frequência cardíaca, respiração, sudoração, digestão entre outras. Todos nós temos a incrível capacidade de modificar esses processos autonômicos, para isso é necessário compreender como os hábitos cerebrais, mentais e comportamentais os influenciam e se retroalimentam.

A medida que nós temos experiências, todos os nossos sentidos se conectam com o ambiente e permitem a nossa interação com o entorno. Essa informação sensorial entra no nosso cérebro e cria padrões e redes neurais. Assim, novas experiências enriquecem os circuitos cerebrais, entanto que experiências repetitivas ou monótonas só fortalecem os circuitos antigos. Por exemplo, dirigir o carro é uma atividade que inicialmente requer muita atenção consciente sobre múltiplas informações, como: os outros carros, pessoas, animais, espelhos retrovisores, o próprio som do carro etc… Assim que praticamos e repetimos tantas vezes a mesma atividade, nosso corpo e cérebro aprendem a fazê-la de forma automática e com pouca necessidade de processamento de informação consciente. Temos feito isso tantas vezes que já não precisamos pensar nelas, então dirigir começa a se tornar um programa subconsciente no qual sabemos o que fazemos, mas não sabemos como. O mesmo acontece com nossas respostas emocionais. Quando respondemos repetidamente de certa forma frente a determinadas circunstâncias, nosso corpo responde de maneira automática (ou automaticamente), quase não temos que pensar e muitas vezes nem percebemos que estamos respondendo desse jeito.

As atividades do dia a dia que geram estresse também criam uma marca neurológica, que como o ato de dirigir o carro, viram hábitos e padrões automáticos de resposta. Quando vivemos em constante estado de estresse ou ansiedade, estamos frequentemente percebendo ameaças no nosso entorno e vivendo em estado de sobrevivência (constante alerta). Este estado ativa o sistema nervoso primitivo de luta ou fuga, indicando que temos que atacar ou nos defender das ameaças. O nosso sistema prepara o corpo para responder, aumentando a frequência cardíaca, a taxa de respiração, a sudoração e a liberação de cortisol (o hormônio do estresse). No entanto, do mesmo jeito que este sistema ativa esses processos, também tira recursos necessários para melhor funcionamento de outros. Por exemplo, diminui o fluxo sanguíneo do sistema digestivo e suprime o sistema imunológico, afinal, não é hora de comer nem de se preocupar com qualquer doença, o importante é enfrentar a ameaça do ambiente. O corpo tem que utilizar esses recursos eficazmente a fim de gerar uma ótima resposta de luta ou fuga que garanta a sobrevivência.

Contudo, socialmente não é muito aceito responder atacando outras pessoas ou fugindo, então mesmo que o nosso corpo esteja pronto, precisamos nos controlar e não reagir de forma inapropriada. Voltando para o exemplo do carro, é como se estivéssemos colocando o pé no acelerador e no freio ao mesmo tempo, sem avançar, só queimando combustível, esquentando o motor e podendo danificar o sistema. Dessa forma, estados prolongados de ativação do sistema nervoso primitivo podem gerar sérios problemas na nossa saúde, tais como doenças cardíacas, digestivas, endócrinas, imunológicas e um longo etecetera.

Tais padrões, influenciados pela urgência e excitação do sistema, fazem com que o cérebro e o corpo comecem a enviar sinais desorganizados um para o outro, gerando incoerência entre o que se sente e o ambiente. Assim, provavelmente em uma situação aparentemente tranquila, podemos vivenciar sensações de agitação, hiperatividade, inquietação do pensamento e aumento da frequência cardíaca, mesmo quando não há razões nem ameaças ambientais objetivas que as provoquem. Portanto, por hábito, o cérebro pode enviar mensagens incoerentes para o coração e ele começa a funcionar de forma incoerente, enviando mensagens erradas para o cérebro, causando um ciclo autorretroalimentador, gerador de doenças e desequilíbrios. Não existe um chefe nessa relação entre o coração e o cérebro, mas existe uma dinâmica na qual um influencia o outro e se retroalimentam continuamente com cada experiência. É possível quebrar esse ciclo e gerar mudanças positivas? Claro que sim! Mas como fazer isso? Podemos criar novos padrões cerebrais que gerem mudanças significativas e reforcem novos comportamentos, experiências, sentimentos e emoções. Ferramentas ao nosso alcance como a meditação, a psicoterapia, exercícios de respiração consciente, Neurofeedback, entre outras, permitem criar novas conexões dentro do cérebro. Assim, novas experiências, novas atividades, novas interações criam novas conexões. Nosso cérebro não está programado nem obrigado a seguir do mesmo jeito para o resto das nossas vidas. De fato, nosso cérebro é uma incrível maquina capaz de mudar e se adaptar às mais diversas condições. É possível criar coerência cardíaca e cerebral e criar mudanças significativas, não só para a saúde, mas também para a vida.

Quando o cérebro começa a funcionar corretamente, nós começamos a enxergar que o mundo pode parecer um lugar bem mais tranquilo e menos ameaçador do que parece. A coerência acontece quando o cérebro começa a unificar e sincronizar o seu funcionamento entre as respostas autonômicas e o comportamento. Assim, o pensamento fica mais calmo e organizado, regulam-se o sistema cardíaco, respiratório, endócrino e digestivo, e se torna o comportamento muito mais adaptado e eficiente diante das exigências do entorno.

Por: Juan Aristizabal

Neurofeedback

BrainTrainer Profissional

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